Quatro anos!!
Primeiro de junho.
Faz 4 anos que iniciei a diálise peritoneal, mas tem muita
história antes disso.
Jamais pensaria no meu futuro fazendo uma terapia como
diálise peritoneal ou hemodiálise. Na verdade, eu nem saberia dizer o que seria
isso ou mesmo como funciona.
Sempre gostei de esportes, brincar, correr, andar de
bicicleta, cozinhar, subir no telhado, nadar, pular corda, brincar na rua,
subir em árvores, plantar, colher e comer frutas nas árvores. Quando penso
nisso agradeço a Deus por ter me dado oportunidade de ter feito tudo isso!
Desde cedo gostava da minha independência. Logo que possível
comecei a ir pra escola sozinha. Achava o máximo!
A vida foi passando... estudando... trabalhando... casando!
Após 26 anos em São Paulo mudei com o meu marido para o interior – Araraquara –
cidade natal do meu marido.
Através de exames médicos, fui diagnosticada com DRP –
Doença Renal Policística. Sabia que deveria me cuidar pra retardar o meu
ingresso na hemodiálise, já que seria certo que perderia meus rins algum dia no
futuro. Diante disso, meu marido fez vasectomia para que não colocássemos no
mundo mais uma pessoa com DRP, já que ela é hereditária em 50% dos casos.
Em 1999, sofri um AVC isquêmico grave. Foi “punk”. Digo sempre que Deus me mandou
de volta e o mesmo fez o diabinho. Nenhum dos dois me quis...
Com esse episódio descobri que tinha um aneurisma no
cérebro, na artéria vertebral direita. Na época os médicos queriam operar, mas
eu não quis. Seria uma cirurgia invasiva demais com enorme risco de óbito ou de
sequelas catastróficas.
Na literatura médica consta que quem tem rins policísticos tem
grande chance de ser premiado com um aneurisma.
2015 foi o ano em que meus rins entraram na fase terminal –
estágio 5 da IRC – Insuficiência Renal Crônica (os rins funcionam 10% ou
menos).
Meu médico me direcionou para eu fazer a DPA – Diálise
Peritoneal Automatizada tendo em vista que na Hemodiálise o paciente recebe uma
alta dose de Heparina, uma substância anticoagulante que poderia ser letal para
mim em virtude do meu aneurisma. A DPA é
uma terapia feita com uma máquina (cicladora), durante todas as noites em minha
residência ou outro local caso eu esteja viajando.
Conclusão: preciso estar atrelada todas as noites a uma
máquina para sobreviver!
Eu e o meu marido fizemos um treinamento com a enfermeira
responsável pela diálise peritoneal. Posso dizer que ficamos craques.
No dia 14 de maio de 2015 o médico implantou o cateter de
Tenckoff no meu peritônio.
Em 1º de junho iniciei a diálise peritoneal no aconchego do
meu lar e do meu maridão.
No mesmo mês fiz a inscrição na fila de transplante renal
para conseguir um rim de cadáver. Dependo da doação de órgão de alguma família
que tenha compaixão por alguém que poderá sobreviver após o seu ente querido
ter falecido.
2016 tive peritonite, retirei o cateter do abdômen e foi inserido um cateter próprio para a hemodiálise. Passei a fazer hemodiálise (com
Heparina controlada) por sete meses. Foi uma grande experiência onde conheci
muitas pessoas e pude aprender muito.
Sim, a hemodiálise é um tratamento para
sobrevivermos, mas acaba com o paciente em outras partes do corpo.
Quando meu peritônio ficou em condições de receber um novo
cateter foi feito novo implante. Dessa vez foi o cateter Swan Neck, também conhecido como Pescoço de Cisne ou Rabinho
de Porco. Isso foi em 14 de março de 2017.
Vinte e quatro dias depois retornei à diálise peritoneal.
No dia 12 de maio foi retirado o cateter Permcath (o que eu
usava na hemodiálise).
Antes da retirada do cateter Permcath, no dia 7 de maio de
2017, estive numa consulta no Hospital do Rim, em São Paulo. A médica que me atendeu viu todos os meus
exames e se deteve na angiografia que fiz após o meu AVC, em 1999. Ela foi
taxativa: sem resolver o problema do aneurisma eu não poderia fazer
transplante.
Felizmente fui recomendada para um dos melhores e mais
competentes Radiologistas Intervencionistas do país, em Ribeirão Preto. Fui,
então, submetida a uma nova angiografia cerebral no dia 23 de junho, para
avaliar a localização e condições do aneurisma para, posteriormente, fazer a
embolização.
Surpresa! O resultado
mostrou que eu não tinha um aneurisma, mas dois: um em cada artéria vertebral!
E ambos eram bem complicados: o primeiro era espelhado (uma bolsa de cada lado
da artéria) e o outro alongado. Ambos eram desafiadores e teriam que ser
atacados em duas intervenções.
A primeira foi marcada para 5 de setembro e durou 4 horas e
meia. A segunda foi em 25 de outubro, uma semana antes de eu completar 54 anos.
Alguns meses depois, no dia 8 de maio de 2018, fiz nova
Angiografia Cerebral para avaliação. O resultado foi excelente! Fiquei livre
dessas pequenas bexigas nas artérias cerebrais, que poderiam me levar à morte,
bastando uma eventual pressão arterial elevada.
Só sei que todos esses percalços acabam com qualquer
ser-humano. Não é nada fácil e precisamos sempre ter pessoas com quem contar.
Um amigo nessas horas faz uma grande diferença. Ainda bem que eu tenho o melhor
amigo do mundo, o meu marido.
Ah! Conto também com a minha querida cicladora e com o
médico e a enfermeira que fazem o meu acompanhamento mensal.
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