Hoje faz oito meses que comecei a fazer diálise peritoneal.
Não foi nada fácil e continua não sendo, mas dá pra levar. É uma terapia
alternativa pra quem sofre de insuficiência renal crônica enquanto aguarda um
órgão para transplante. O tempo que terei que aguardar para fazer o transplante
renal eu não sei, talvez um dia próximo ou longínquo.
Mas um dia, com certeza,
eu receberei a notícia de que apareceu um rim pra mim. Eu estou cadastrada na lista de espera para
transplantes renais, mas ainda tem muita gente na minha frente. Enquanto isso eu
vou me acostumando com a rotina da terapia, aprendendo, pesquisando e vivendo a
diálise peritoneal a cada dia.
Na
doação de um órgão, no meu caso um rim, o melhor seria se eu tivesse um irmão
ou parente que quisesse e pudesse doar. O melhor doador seria aquele que, além
da compatibilidade do tipo de sangue, tem os antígenos de histocompatibilidade
mais semelhantes ao meu. Esses antígenos
são determinados através da tipagem HLA (abreviatura em
inglês de Antígenos Leucocitários Humanos).
Minha enteada foi a primeira a oferecer um rim para
transplante. Ela tem uma filha, muito amada por mim, ela é muito espoleta,
adora subir em árvores, muros e por aí vai. Isso me lembrou do meu marido, que
quando garoto, subiu em uma mangueira e, caindo no chão, acabou por perder um
rim. Nem posso pensar em algo semelhante. E se algo acontece e ela precisa? Nem
pensar!
Meu enteado também teve o mesmo gesto de amor, mas além
de não ser compatível, ele é hipertenso e pai de uma linda netinha, que eu
adoro, e já vai ser papai de novo. Pela
mesma razão exposta acima eu não poderia aceitar, mesmo que houvesse
compatibilidade.
Meu sobrinho falou em ser doador, mas como ele tem
filhas, eu não me sentiria nada bem caso um dia alguma delas pudesse precisar
do mesmo órgão. Meus rins são policísticos, doença genética, não desejo a
ninguém, mas a gente não sabe o que pode acontecer no futuro.
Também duas filhas de amigas queridas que, quando
souberam da minha situação, queriam doar um de seus rins. Uma delas é da cidade
que eu moro, outra é de Curitiba. Elas são lindas! Têm muita vida pela frente! Não acho justo privá-las de um órgão.
Além do mais, para se conseguir uma doação de um rim de
uma pessoa que não tenha grau de parentesco direto (pai, mãe, filhos, esposa ou
marido, sobrinhos, tios ou primos em segundo grau) é preciso entrar com uma
Petição Judicial, morosa e burocrata. No
fundo isso está certo, pois serve para evitar o comércio ou contrabando de
órgãos.
Eu posso aguardar um rim de alguém que não irá precisar
mais dele. Ou, sendo mais clara, de um cadáver cuja família decidiu ajudar
outras pessoas e doar os órgãos do falecido. Todo mundo deveria pensar
seriamente nisso!
Porém, temos que encarar a dura realidade: além do nosso
país contar com um baixo número de doadores de órgãos, não tem a infraestrutura
necessária para recebê-los, classificá-los e realizar seu transporte com a
máxima urgência para os centros de transplante. Você já pensou em quantos órgãos vitais são perdidos por esse Brasil
afora?
Uma pergunta que muitas pessoas me fazem é sobre se eu
ainda urino. Sim, eu ainda urino. Não é
porque sofro de insuficiência renal crônica que eu não urinaria. Meus rins
ainda funcionam um pouquinho. Durante a noite eu urino bastante. Chego a urinar um litro e meio, o que é um
volume grande. Isso não quer dizer que meus rins estão funcionando bem. Pelo contrário. Esse volume se refere à incapacidade dos rins
de concentrar a urina, resultando, portanto, num líquido claro. Quem faz
hemodiálise logo perde a capacidade de urinar, tendo que se abster de ingerir
líquidos e consumir somente alimentos que não produzam muita água.
Blog excelente! Muito útil! Dessa forma, todos que passam por diálise peritoneal podem se informar melhor! Obrigado por tudo, Helia! Beijão!
ResponderExcluirInfelizmente doação de órgãos é um tabu, ninguém pensa nisso quando morre alguém próximo. Precisamos mesmo falar mais sobre o assunto!
ResponderExcluirVocê tem sido muito forte e vai vencer essa luta.